sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Anjo 1#



As coisas já não eram mais as mesmas quando eu deixei tudo para trás. Tudo havia mudado e eu não poderia ser uma exceção, achei que só mudaria se eu saísse daquele lugar, e foi exatamente o que eu fiz.

O problema é que deixar tudo para trás não é tão simples, você sempre quer levar alguma coisa, sempre tem algo que você se apega e não quer deixar, no meu caso foi a velha mochila meio surrada que sempre esteve comigo nas viagens, e mais uma vez eu a levei. Dessa vez ela estava vazia, assim como eu.

Minha mãe no começo foi totalmente contra a minha saída, afinal, mãe é mãe e ver seu único filho sair de casa sem saber quando o veria novamente é algo muito difícil.
Não que eu saiba exatamente como é, mas ver a expressão no rosto da minha mãe me dava uma ideia de como era. Porque me doía também.

Mas finalmente eu deixei aquela cidade, deixei tudo para trás, sem levar uma roupa, apenas a mochila e o dinheiro que eu havia juntando há muito tempo, o próximo passo agora era para onde eu deveria ir.



1#

Depois de andar algumas horas eu consegui chegar a uma cidade do interior. Foi estranho quando eu entrei no primeiro ônibus que estava na rodoviária e desci quando me deu vontade de caminhar, afinal desci no meio do nada. Chegar nessa cidade era um alivio.

Uma pequena cidade do interior, com ruas de paralelepípedos e casas a moda antiga, eu podia ver algumas vendas e pequenas lojas. Após essas horas eu precisava tomar um banho e estava procurando algum lugar na cidade para ficar quando eu vi uma fonte, uma menina sentada na ponta com os pés virados pra dentro da fonte estava ali e eu me aproximei.

- Com licença, você poderia me dar algumas informações, é que eu acabei de chegar na cidade – e fiquei esperando uma resposta dela. Mas ela parecia não se importa ou não ter me ouvido e então insisti – Me perdoe, eu sou novo aqui.

- Por que você não senta ao meu lado e coloca os pés na agua? É bem refrescante.

Não sabia se ela havia realmente entendido o que eu estava perguntando, mas aquela proposta foi tentadora já que eu estava caminhando havia muito tempo. Não deveria ver mal algum e então eu tirei meus sapatos já empoeirados e sentei ao lado dela com os pés na agua.

- O que você trás na mochila? – ela perguntou apontando para a mochila que eu havia deixado escorada na fonte, e foi então que eu percebi o quão linda era a menina ao meu lado.

Os longos cabelos negros e a pele clara tinham um brilho intenso com a luz do sol. Com um brilho no olhar que vi de lado, já que ela não olhava para mim e sim prestando atenção na paisagem, eu percebi que ela era totalmente diferente.

- Não tem nada ali dentro, ela esta vazia, assim co...

- Como eu – ela falou antes que eu pudesse completar a frase e sorriu. Eu pensei como ela se sentia da mesma forma que eu – Eu preciso ir embora agora – E então ela se levantou e saiu descalça sem falar mais nada.

Eu fiquei ali mais um tempo pensando naquela menina e também aproveitando para me refrescar do calor. E de repente alguns jovens chegaram perto de mim.

- Você não deveria estar ai, não pode se banhar na fonte – disse um deles ao se aproximar, mas eu não pude notar qual deles foi.

Ao todo eram três os jovens, dentre eles uma menina muito bonita de olhos verdes pele clara e loira, os outros dois eram morenos com olhos escuros, pareciam ser irmãos.

- Mas havia uma menina aqui que me chamou – eu respondi

- Ela é meio maluca, se eu fosse você não andaria com ela – a menina falou com um ar meio esnobe.

- Eu não sabia, me desculpe – logo fui levantando e sentei novamente, dessa vez com os pés virado para fora da fonte.

- Você parece ser novo aqui, a cidade é pequena e nunca te vi por aqui antes – novamente a menina falava, e seu ar esnobe permanecia – me chamo Luana, e esses são meus amigos Ricardo e Bernardo, são irmãos.

Eu olhava os três e tinha um sentimento estranho em relação a eles, mas algo me fez lembrar na garota da fonte novamente.

- E aquela garota de antes? Ela é realmente maluca? – eu perguntei me interessando na historia dela.

- Não é exatamente maluca, acho que é mais problemática mesmo – dessa vez foi o Bernardo que falou, ele parecia ser o irmão mais novo.

- Parece que ela foi abandonada quando ainda era um bebe e ninguém quis cuidar dela, então ela cresceu fugindo e fazendo besteiras, como se ninguém quisesse ela. Até que um dia quando ela estava bem mais velha ela foi presa e obrigada a viver com os atuais pais – o Ricardo falava como se fosse uma lenda.

- Mas então, o que você faz aqui? – a voz esnobe havia mudado o tom e agora parecia doce. A Luana estava sentada ao meu lado e encostou a cabeça no meu ombro.

Achei realmente estranho a mudança de comportamento da menina, não que fosse estranho as pessoas mudarem de comportamento, até porque quem é acostumado a viver em sociedade sabe que se deve adaptar.

- Eu não sei o que eu faço aqui – respondi meio em duvida ainda sobre os três – Eu decidi fazer uma viajem e estou passando por essa cidade, não estava nos meus planos – eu ri olhando para baixo e falei baixo – isso se eu tivesse um plano.

- Realmente não deveria estar nos seus planos vir para estar cidade, quem faria planos de vir para cá? – o comentário da Luana fez os outros dois rirem.

Eu não estava me sentindo confortável com os três e decidi ir embora dali. Me despedi deles e sai andando pela cidade como se eu soubesse para onde ir.

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